A cultura de forking em cripto: Como o SushiSwap reinventou o Uniswap e o que isso significa para o futuro do DeFi

A cultura de forking em cripto

Desde o surgimento das finanças descentralizadas (DeFi), o forking se tornou uma das estratégias mais recorrentes para acelerar a inovação, testar novas ideias e, em alguns casos, capturar parte da liquidez de projetos já consolidados. O caso mais emblemático até hoje é o SushiSwap, que nasceu como um fork do Uniswap e rapidamente se transformou em um concorrente de peso, gerando discussões sobre ética, tokenomics e governança.

1. O que é um fork no contexto das criptomoedas?

Um fork pode ser entendido como a cópia do código-fonte de um protocolo, seguida de modificações que atendam a um objetivo específico. No universo de software, o termo já é familiar – pense no Linux, que possui inúmeras distribuições baseadas no mesmo kernel. No mundo cripto, a prática ganhou notoriedade porque o código de muitos protocolos DeFi é open‑source, permitindo que desenvolvedores criem versões alternativas em poucos dias.

Existem duas categorias principais:

  • Hard fork: mudança incompatível que cria duas cadeias distintas (ex.: Ethereum vs. Ethereum Classic).
  • Soft fork ou fork de protocolo: ajuste que mantém a compatibilidade, mas introduz novas funcionalidades ou parâmetros de governança.

No caso do SushiSwap, estamos falando de um fork de protocolo – a equipe copiou o código do Uniswap V2, adicionou um token de incentivo (SUSHI) e lançou a plataforma com o objetivo de atrair liquidez através de um vampire attack.

2. Por que criar um fork? Motivações estratégicas

Os motivos que levam desenvolvedores a criar um fork são variados:

  1. Velocidade de mercado: ao reutilizar código testado, o time pode lançar um produto em semanas, não em meses.
  2. Inovação incremental: pequenas mudanças – como um modelo de recompensa diferente – podem gerar valor significativo.
  3. Captura de liquidez: ao oferecer incentivos maiores, um fork pode “roubar” liquidez de outro protocolo (o famoso vampire attack).
  4. Governança descentralizada: criar um token de governação próprio permite que a comunidade decida o futuro do projeto.
  5. Reação a falhas percebidas: se um protocolo tem vulnerabilidades ou limitações, um fork pode corrigi‑las rapidamente.

Essas motivações foram todas combinadas no SushiSwap, que introduziu o token SUSHI como recompensa de staking e governança, além de oferecer yield farming mais atrativo que o Uniswap original.

3. O caso SushiSwap x Uniswap: cronologia de um ataque vampiro

Em setembro de 2020, a equipe liderada por Chef Nomi anunciou o SushiSwap. O plano era simples: copiar o contrato do Uniswap V2, lançar a exchange e distribuir SUSHI aos provedores de liquidez (LPs) que migrassem seus tokens LP para o novo protocolo. Em poucos dias, mais de 30 % da liquidez do Uniswap migrou para o SushiSwap.

A cultura de forking em cripto (ex: SushiSwap fork do Uniswap) - sushiswap uniswap
Fonte: Matt Popovich via Unsplash

Os principais gatilhos foram:

  • Incentivo duplo: além das taxas de swap, os LPs recebiam SUSHI, que podia ser stakeado para ganhar ainda mais recompensas.
  • Comunicação agressiva nas redes sociais: a equipe utilizou Twitter, Discord e Telegram para criar hype.
  • Governança aberta: o token SUSHI conferia direitos de voto, atraindo quem desejava participar das decisões.

O resultado foi um boom de liquidez, mas também gerou controvérsias sobre ética e sustentabilidade. Muitos questionaram se o modelo era apenas um pump‑and‑dump de tokens de governança.

4. Impactos do forking na tokenomics e no ecossistema DeFi

Forks como o SushiSwap têm repercussões profundas:

  • Distribuição de tokenomics: ao criar um token de incentivo, o fork altera a oferta circulante, o FDV (Fully Diluted Valuation) e a capitalização de mercado. Para entender melhor como o FDV influencia a avaliação, veja nosso artigo Por que o FDV é importante.
  • Pressão sobre a tokenomics original: quando a liquidez migra, o volume de negociação e as taxas do protocolo original podem cair, afetando a sustentabilidade do projeto.
  • Concorrência de inovação: forks forçam os protocolos originais a melhorar, seja reduzindo taxas, adicionando novos recursos ou aprimorando a segurança.
  • Risco de fragmentação: usuários podem ficar indecisos sobre onde alocar capital, gerando dispersão de liquidez.

Esses efeitos são particularmente visíveis quando analisamos a estratégias de proteção dos protocolos DeFi, que incluem ajustes de taxas, programas de recompensas e melhorias de governança.

5. Como avaliar se um fork vale a pena?

Antes de migrar fundos para um fork, considere os seguintes critérios:

  1. Equipe e transparência: quem está por trás do projeto? Há auditorias de segurança públicas?
  2. Modelo de tokenomics: o token de incentivo tem um suprimento razoável? Como são distribuídas as recompensas?
  3. Riscos de segurança: o código foi revisado? Existe histórico de exploits?
  4. Liquidez e profundidade de mercado: a nova plataforma tem volume suficiente para garantir swaps eficientes?
  5. Governança: você terá voz nas decisões ou o controle permanecerá centralizado?

Ferramentas como CoinGecko e CoinMarketCap podem ajudar a monitorar métricas de capitalização, volume e distribuição de tokens.

6. Exemplos recentes de forks além do SushiSwap

Embora o SushiSwap seja o caso mais famoso, a prática continua ativa:

A cultura de forking em cripto (ex: SushiSwap fork do Uniswap) - although sushiswap
Fonte: Anna Kumpan via Unsplash
  • Trader Joe (Avalanche) – fork do Uniswap V2 com incentivos de token $JOE.
  • PancakeSwap (BNB Chain) – fork do Uniswap adaptado à Binance Smart Chain, adicionando farms e lottery.
  • QuickSwap (Polygon) – fork que otimiza taxas de gas para a rede Polygon.

Esses projetos mostram que o forking pode ser adaptado a diferentes blockchains, atendendo a necessidades específicas de custos, velocidade e comunidade.

7. O futuro da cultura de forking

À medida que a camada de infraestrutura do DeFi amadurece, espera‑se que:

  • Modularização de contratos inteligentes torne ainda mais fácil montar novos protocolos a partir de blocos pré‑testados.
  • Regulamentação possa impor requisitos de transparência para projetos que copiam código, reduzindo práticas abusivas.
  • Inovações em governança – como EigenLayer – permitam que forks compartilhem segurança de camada base, reduzindo a necessidade de auditorias individuais.

Em última análise, o forking não é nem bom nem ruim; é uma ferramenta que, quando usada com responsabilidade, pode acelerar a evolução do ecossistema.

Conclusão

A cultura de forking em cripto demonstra a força da comunidade open‑source e a competitividade do mercado DeFi. O SushiSwap mostrou que, ao combinar incentivos de tokenomics, governança aberta e uma estratégia de vampire attack, é possível desafiar projetos estabelecidos e criar valor real. Contudo, investidores devem analisar cuidadosamente a equipe, a segurança e a tokenomics antes de migrar capital.

Se você ainda não explorou forks no seu portfólio, este pode ser o momento de estudar casos de sucesso e entender como a inovação incremental pode gerar oportunidades únicas.

Para aprofundar ainda mais, leia também nossos artigos sobre Vampire Attack em DeFi e Como os protocolos DeFi se protegem.