O que são os serviços de RPC (Remote Procedure Call) e por que são essenciais para a Web3

O que são os serviços de RPC (Remote Procedure Call) e por que são essenciais para a Web3

Nos últimos anos, a explosão de projetos blockchain e aplicações descentralizadas (dApps) trouxe à tona um componente técnico que, embora pouco conhecido fora dos círculos de desenvolvedores, é decisivo para o funcionamento de toda a infraestrutura: os serviços de Remote Procedure Call (RPC). Se você já se perguntou como seu wallet consegue ler o saldo de um endereço, como uma exchange exibe o preço de um token em tempo real ou como um contrato inteligente interage com dados externos, a resposta está nos servidores RPC que mediam a comunicação entre seu aplicativo e a rede blockchain.

1. Conceito básico: o que é um Remote Procedure Call?

Um Remote Procedure Call – Wikipedia (RPC) é um protocolo que permite a um programa executar uma rotina ou função que está localizada em outro computador, como se fosse uma chamada local. Em termos simples, o cliente envia uma solicitação (request) ao servidor, que processa a operação e devolve a resposta (response). Essa abstração elimina a necessidade de o desenvolvedor lidar com detalhes de rede, sockets ou formatos de mensagem, concentrando‑se apenas na lógica de negócio.

2. Como o RPC se aplica ao universo blockchain

Na blockchain, o “servidor” é um nó que mantém uma cópia completa do ledger e oferece APIs para consultas e transações. Quando um dApp precisa, por exemplo, consultar o balance de um endereço Ethereum, ele envia um método eth_getBalance via JSON‑RPC para um nó. O nó responde com o valor solicitado, e o dApp exibe a informação ao usuário.

Sem um serviço de RPC, cada usuário teria que rodar seu próprio nó completo – algo inviável para a maioria, devido ao alto consumo de armazenamento, banda e poder de cálculo. Assim, provedores de RPC (Infura, Alchemy, QuickNode, etc.) disponibilizam endpoints públicos ou privados que abstraem essa complexidade.

3. Principais padrões de RPC usados em blockchains

  • JSON‑RPC: o padrão mais difundido em redes como Ethereum, Binance Smart Chain e Polygon. As chamadas são enviadas via HTTP ou WebSocket em formato JSON.
  • gRPC: protocolo de alto desempenho da Google, baseado em HTTP/2 e Protocol Buffers. Começa a ganhar espaço em blockchains de alta velocidade, como Solana.
  • GraphQL: usado por alguns provedores para consultas mais flexíveis, embora ainda dependa de um backend RPC.

4. Serviços de RPC mais populares e suas características

Abaixo, alguns dos provedores mais citados no ecossistema:

O que são os serviços de RPC (Remote Procedure Call) - cited providers
Fonte: Wilhelm Gunkel via Unsplash
  • Infura: oferece endpoints escaláveis para Ethereum, IPFS e outras redes. Possui planos gratuitos e pagos, com limites de chamadas por segundo.
  • Alchemy: destaca‑se por ferramentas de depuração avançadas, métricas de performance e suporte a múltiplas camadas (Layer‑2).
  • QuickNode: foco em rapidez de resposta e integração simplificada com frameworks como Hardhat e Truffle.
  • Chainstack: oferece infraestrutura híbrida, permitindo a escolha entre nós gerenciados ou auto‑hospedados.

Esses provedores são frequentemente citados em artigos como EigenLayer: O Que É, Como Funciona e Por Que Está Revolucionando a Segurança das Blockchains, que discute como a camada de segurança pode ser reforçada ao escolher um endpoint confiável.

5. Vantagens de usar um serviço de RPC externo

  1. Escalabilidade: os provedores mantêm infraestruturas robustas que suportam milhares de requisições simultâneas, essenciais para aplicativos de alta demanda.
  2. Baixa latência: servidores geograficamente distribuídos reduzem o tempo de resposta, melhorando a experiência do usuário.
  3. Facilidade de integração: SDKs e documentação padronizada permitem que desenvolvedores conectem seus dApps em poucos minutos.
  4. Segurança: provedores implementam monitoramento de ataques DDoS, validação de blocos e backups automáticos.
  5. Custos operacionais reduzidos: não é necessário manter um nó completo, economizando energia e recursos de hardware.

6. Desafios e riscos associados ao uso de RPCs

Embora os benefícios sejam claros, confiar em um terceiro traz alguns pontos críticos que precisam ser avaliados:

  • Centralização: ao depender de poucos provedores, a rede pode sofrer pontos únicos de falha ou censura.
  • Limitações de taxa (rate limits): planos gratuitos costumam impor limites de chamadas, o que pode impactar aplicativos com grande volume.
  • Privacidade: provedores podem registrar endereços IP e padrões de uso, gerando preocupações de rastreamento.

Para mitigar esses riscos, muitas equipes adotam estratégias de multi‑RPC, configurando fallback para diferentes provedores ou utilizando nós auto‑hospedados para transações críticas.

7. Como escolher o provedor de RPC ideal para seu projeto

Ao selecionar um serviço, considere os seguintes critérios:

  1. Compatibilidade com a rede desejada: verifique se o provedor suporta a mainnet, testnets e possíveis Layer‑2s que seu projeto utiliza.
  2. SLAs e uptime: procure garantias de disponibilidade (ex.: 99,9% de uptime) e histórico de incidentes.
  3. Latência média: teste a velocidade de resposta em diferentes regiões geográficas.
  4. Planos de preço: avalie se os limites gratuitos são suficientes para o estágio de desenvolvimento e quanto custam as escalas maiores.
  5. Ferramentas de monitoramento: alguns provedores oferecem dashboards que mostram chamadas, erros e métricas de desempenho.

Um exemplo prático de avaliação pode ser encontrado no artigo Como a blockchain pode melhorar a transparência governamental, que discute a importância de escolher infraestruturas confiáveis para aplicações públicas.

O que são os serviços de RPC (Remote Procedure Call) - practical example
Fonte: Martin Vysoudil via Unsplash

8. Futuro dos serviços de RPC: tendências emergentes

O panorama de RPC está evoluindo rapidamente, impulsionado por demandas de escalabilidade e descentralização. Entre as tendências que merecem atenção:

  • RPCs descentralizados: projetos como Ethereum JSON‑RPC API – Ethereum.org estão explorando modelos de rede peer‑to‑peer, onde múltiplos nós oferecem serviços de forma colaborativa.
  • Integração com L2s e rollups: provedores estão adaptando endpoints para suportar soluções como Optimism, Arbitrum e zkSync, reduzindo a complexidade de interação.
  • Segurança avançada via EigenLayer: o conceito de restaking permite que provedores de RPC utilizem a segurança de validação já existente, criando camadas adicionais de proteção.

Essas inovações apontam para um futuro onde a dependência de serviços centralizados será reduzida, aumentando a resiliência de toda a arquitetura Web3.

9. Conclusão

Os serviços de RPC são a espinha dorsal que conecta usuários, desenvolvedores e contratos inteligentes às blockchains. Eles transformam a complexidade de operar nós completos em APIs simples e escaláveis, permitindo que a inovação flua rapidamente. Contudo, a escolha de um provedor adequado, a implementação de estratégias de redundância e a atenção aos aspectos de centralização são fundamentais para garantir a segurança e a performance de qualquer aplicação descentralizada.

Se você está iniciando um projeto Web3, dedique tempo para testar diferentes endpoints, analisar SLAs e, sempre que possível, considere a adoção de múltiplos provedores ou nós próprios. Dessa forma, seu dApp estará preparado para crescer de forma robusta e resiliente, acompanhando a evolução acelerada do ecossistema blockchain.