Impacto do The Merge no fornecimento de ETH: análise profunda e implicações para investidores
Em setembro de 2022, a rede Ethereum passou por uma das atualizações mais aguardadas da história das criptomoedas: o The Merge. Essa mudança de um mecanismo de consenso baseado em Proof‑of‑Work (PoW) para Proof‑of‑Stake (PoS) não apenas reduziu drasticamente o consumo energético da rede, como também introduziu alterações estruturais na forma como novos ETH são emitidos. Para quem acompanha Ethereum e a queima de ETH com EIP‑1559, a combinação desses dois desenvolvimentos cria um cenário de tokenomics ainda mais complexo e, ao mesmo tempo, potencialmente deflacionário.
Como funcionava a emissão de ETH antes do Merge
Antes da transição, a rede Ethereum utilizava o algoritmo PoW, similar ao Bitcoin, no qual mineradores recebiam recompensas por validar blocos. A recompensa base era de 2 ETH por bloco, além de taxas de transação que, após a implementação do EIP‑1559, eram parcialmente queimadas, diminuindo o suprimento circulante. Em média, eram criados cerca de 13.500 ETH por dia, o que correspondia a aproximadamente 4,9 milhões de ETH por ano.
O que mudou com o The Merge
Com a adoção do PoS, a emissão de novos ETH passou a ser feita por validadores que “apostam” (stake) seus tokens para garantir a segurança da rede. A recompensa total foi reduzida para cerca de 0,6 ETH por bloco, e o número de blocos por dia diminuiu levemente devido ao ajuste do tempo de slot. Isso significa que a taxa de inflação anual caiu de cerca de 4 % para menos de 0,5 %.
Além da redução da recompensa, o Merge introduziu um mecanismo de “penalidade de inatividade” (inactivity penalty) que pode queimar ETH de validadores que não cumpram suas obrigações, acrescentando outro fator de diminuição do suprimento.
Impacto direto no suprimento circulante
O suprimento circulante de ETH é a métrica que os investidores mais observam, pois influencia diretamente a capitalização de mercado e a percepção de escassez. Após o Merge, a combinação de recompensas menores, queima de taxas via EIP‑1559 e possíveis penalidades cria um efeito cumulativo que tende a reduzir o crescimento do suprimento. Em termos práticos, a métrica chave da tokenomics pode passar de um aumento de +4 % ao ano para um crescimento próximo de zero ou até mesmo negativo, caso a queima supere a emissão.

Para ilustrar, considere que a queima diária de taxas já chegava a cerca de 0,5 % do volume transacionado em 2023. Se o volume permanecer estável ou crescer, a queima pode consumir até 7 milhões de ETH por ano, superando a emissão de ~1 milhão de ETH pós‑Merge.
Relação entre The Merge e EIP‑1559
Embora o Merge e o EIP‑1559 sejam atualizações distintas, seu efeito conjunto é o que realmente molda a dinâmica de oferta. O EIP‑1559 introduziu a taxa base que é queimada, enquanto o Merge diminuiu a criação de novos tokens. Essa sinergia gera o que muitos analistas chamam de “deflação programada”. Para entender melhor os detalhes da queima, vale a leitura de Ethereum e a queima de ETH com EIP‑1559.
Consequências para o preço do ETH
Do ponto de vista econômico, a redução da oferta combinada com uma demanda estável ou crescente tende a pressionar os preços para cima, segundo a lei da oferta e demanda. Contudo, o mercado de criptomoedas é altamente sensível a fatores externos: regulamentação, macroeconomia e inovações tecnológicas podem neutralizar ou amplificar esse efeito.
Além disso, a menor emissão pode atrair investidores institucionais que buscam ativos com perfil deflacionário, semelhante ao ouro digital. Por outro lado, a menor recompensa para validadores pode reduzir a atratividade do staking, exigindo que projetos de liquid staking (LSTs) ofereçam retornos mais competitivos.
Comparação com outras métricas de tokenomics
Para quem deseja analisar o desempenho de ETH em relação a outras criptomoedas, é útil comparar o Fornecimento Total vs. Fornecimento Máximo. Enquanto moedas como Bitcoin têm um fornecimento máximo fixo de 21 milhões, o ETH não possui um teto definido, embora a combinação de Merge e EIP‑1559 esteja aproximando a rede a um modelo de emissão quase estável.

Essa característica diferencia o ETH de tokens estritamente deflacionários, como alguns projetos que implementam queimas regulares de tokenomics (Mecanismos de Queima de Tokens), mas ainda assim coloca a rede em uma posição única dentro do ecossistema DeFi.
Perspectivas futuras
O roadmap da Ethereum inclui atualizações como o Shanghai e Dencun, que podem introduzir mais mudanças na emissão e nas taxas de queima. Caso essas atualizações reduzam ainda mais a recompensa ou aumentem a queima de taxas, o ETH poderá entrar em um regime de deflação permanente.
Entretanto, a adoção massiva de soluções de camada 2 (e.g., Optimism, Arbitrum) pode aumentar o volume de transações e, consequentemente, a queima de taxas, reforçando o efeito deflacionário. Investidores devem monitorar indicadores como o preço do ETH e o relatório oficial da Ethereum para entender como o suprimento evolui em tempo real.
Conclusão
O The Merge representa um marco não apenas ambiental, mas também econômico para o Ethereum. Ao reduzir drasticamente a emissão de novos ETH e ao combinar esse efeito com a queima contínua de taxas via EIP‑1559, a rede avança em direção a um modelo de tokenomics mais sustentável e possivelmente deflacionário. Para investidores, isso significa que o ETH pode se tornar um ativo ainda mais escasso, o que, historicamente, tem sido favorável ao preço. Contudo, como sempre no mundo cripto, a cautela é essencial: fatores externos e desenvolvimentos técnicos futuros podem alterar esse panorama.