Ethereum e a queima de ETH com EIP‑1559: tudo o que você precisa saber

Ethereum e a queima de ETH com EIP‑1559: tudo o que você precisa saber

Desde a sua criação, o Ethereum tem passado por uma série de atualizações que visam melhorar a escalabilidade, a segurança e a sustentabilidade econômica da rede. Entre elas, o EIP‑1559 – implementado na London Hard Fork em agosto de 2021 – trouxe uma mudança estrutural no modelo de taxas e introduziu o mecanismo de queima de ETH, conhecido popularmente como “burn”. Neste artigo profundo, vamos analisar como funciona a queima de ETH, quais são seus impactos no ecossistema e o que isso significa para investidores, desenvolvedores e usuários.

1. O que é o EIP‑1559?

O EIP‑1559 (Ethereum Improvement Proposal 1559) foi proposto por Vitalik Buterin e outros membros da comunidade para reformular o mecanismo de taxas de transação. Antes do EIP‑1559, as taxas eram determinadas por um leilão “first‑price”, onde o usuário definia o valor que estava disposto a pagar e, geralmente, pagava mais do que o necessário para garantir a inclusão da transação.

Com o EIP‑1559, o modelo passou a ter dois componentes:

  • Base fee: taxa mínima obrigatória que se ajusta automaticamente a cada bloco, de acordo com a demanda da rede.
  • Tip (priority fee): valor adicional opcional que incentiva os validadores a priorizarem a transação.

O grande diferencial é que a base fee é queimada (“burned”) em vez de ser paga aos validadores, reduzindo a oferta circulante de ETH.

2. Como funciona a queima de ETH?

Quando uma transação é incluída em um bloco, a base fee calculada para aquele bloco é enviada para um endereço especial que não tem chave privada – efetivamente destruindo esses ETH. O processo pode ser resumido em três etapas:

  1. O usuário paga a base fee + tip.
  2. A base fee é encaminhada ao contrato de queima interno do protocolo.
  3. Esses ETH desaparecem da oferta total, reduzindo o suprimento circulante.

O efeito acumulado depende do volume de transações e da demanda da rede. Em períodos de alta atividade, a queima pode superar a emissão de novos ETH (através de recompensas de staking), resultando em um déficit net de emissão.

Ethereum e a queima de ETH com EIP-1559 - issuance cumulative
Fonte: Ben McKibben via Unsplash

3. Impacto econômico da queima de ETH

O modelo de queima cria um mecanismo deflacionário que pode influenciar o preço do ETH de duas maneiras principais:

  • Redução da oferta circulante: menos ETH disponíveis tende, ceteris paribus, a pressionar o preço para cima.
  • Percepção de valor: investidores veem a queima como um sinal de que a rede está se tornando mais “escassa”, semelhante ao Bitcoin.

Vários estudos (por exemplo, da CoinDesk) mostram que, desde a implementação do EIP‑1559, a queima mensal de ETH tem variado entre 5.000 e 30.000 ETH, dependendo da atividade da rede. Em 2023, a queima anual ultrapassou 200.000 ETH, representando cerca de 0,7% da oferta total.

4. Dados estatísticos e tendências recentes

Confira alguns números relevantes (dados até setembro de 2025):

Mês ETH queimados Recompensas de staking Déficit/Excedente
Jan/2025 4,800 5,100 +300 (excedente)
Fev/2025 6,200 5,050 -1,150 (déficit)
Mar/2025 7,500 5,000 -2,500 (déficit)
… (continua)

Os meses de déficit coincidem com picos de uso em aplicações DeFi, NFTs e jogos Play‑to‑Earn, demonstrando a correlação entre atividade da rede e queima.

5. Comparação com outros mecanismos de taxa

Outras blockchains adotam abordagens diferentes:

  • Bitcoin: as taxas são pagas integralmente aos mineradores, sem queima.
  • Solana: utiliza um modelo de taxa fixa muito baixa, sem mecanismo de queima.
  • Polygon (MATIC): taxas mínimas que são distribuídas aos validadores, também sem queima.

Essa distinção coloca o Ethereum como a única grande blockchain que combina taxas dinamicamente ajustadas com deflação programada, reforçando sua proposta de “valor digital” comparável ao ouro.

Ethereum e a queima de ETH com EIP-1559 - distinction places
Fonte: Elisabeth Arnold via Unsplash

6. Como investidores podem se beneficiar?

Entender a queima de ETH permite estratégias mais informadas:

  1. Acúmulo de ETH: em períodos de déficit de emissão, o preço tende a subir, tornando a compra estratégica atrativa.
  2. Staking: ao participar do staking, você recebe recompensas que podem compensar a queima, especialmente quando a taxa de queima é alta.
  3. Monitoramento de métricas: ferramentas como Etherscan e Ethereum Burn Tracker fornecem dados em tempo real sobre a quantidade de ETH queimado.

Para aprofundar seu conhecimento sobre o Ethereum, recomendamos a leitura de Como funciona o Ethereum: Guia completo. Se você deseja comparar o impacto econômico entre blockchains, o artigo Solana vs Ethereum: Análise Completa oferece uma visão detalhada.

7. O futuro da queima de ETH

O roadmap do Ethereum prevê mais upgrades que podem alterar a dinâmica de emissão e queima:

  • Shanghai Upgrade (2024): introduziu a possibilidade de retirar ETH do staking, impactando o suprimento circulante.
  • Dencun Upgrade (previsto para 2026): pode trazer novas otimizações nas taxas e, potencialmente, ajustes no algoritmo de queima.

Essas mudanças reforçam a necessidade de acompanhamento constante das métricas de queima e emissão.

8. Conclusão

O EIP‑1559 transformou o modelo de taxas do Ethereum, introduzindo um mecanismo deflacionário que queima ETH a cada transação. Esse processo tem implicações diretas no preço da criptomoeda, na percepção de escassez e na atratividade para investidores de longo prazo. Ao entender como a queima funciona, analisar os dados de emissão e acompanhar os próximos upgrades, você estará melhor posicionado para tomar decisões estratégicas no mercado cripto.