Pinata e Infura: Os pilares da infraestrutura Web3 para desenvolvedores brasileiros

Pinata e Infura: Os pilares da infraestrutura Web3 para desenvolvedores brasileiros

Nos últimos anos, a Web3 deixou de ser um conceito futurista e se tornou a base de milhares de projetos que vão desde NFTs até finanças descentralizadas (DeFi). Dois nomes se destacam quando o assunto é infraestrutura robusta e escalável: Pinata e Infura. Neste artigo aprofundado, vamos desvendar como esses serviços funcionam, por que são essenciais para desenvolvedores que trabalham com Ethereum e IPFS, e como integrá‑los de forma segura e econômica nos seus projetos.

1. O que são Pinata e Infura?

Pinata é um serviço de pinning para a rede InterPlanetary File System (IPFS). Em termos simples, ele garante que os arquivos que você envia para o IPFS permaneçam disponíveis permanentemente, “fixando” (pinning) esses dados em múltiplos nós. Sem um serviço de pinning, os arquivos podem ser descartados pelos nós da rede, comprometendo a disponibilidade de NFTs, metadados ou documentos críticos.

Infura, por sua vez, é a solução de node-as-a-service da ConsenSys. Ela fornece acesso a nós completos de Ethereum (e de outras cadeias compatíveis) via APIs HTTP e WebSocket, permitindo que desenvolvedores leiam e gravem na blockchain sem precisar manter sua própria infraestrutura de nós.

2. Por que a infraestrutura importa?

Ao construir aplicativos descentralizados (dApps), a experiência do usuário depende diretamente da velocidade e confiabilidade dos serviços de backend. Se o seu NFT demora segundos para carregar o metadado ou se a transação falha por falta de conexão com um nó, o usuário perde confiança no seu produto. Pinata e Infura resolvem esses gargalos:

  • Disponibilidade de dados: Pinata garante que arquivos de mídia, JSON de metadados e documentos de identidade estejam sempre acessíveis.
  • Escalabilidade de chamadas RPC: Infura lida com milhares de requisições simultâneas, permitindo que seu dApp cresça sem necessidade de dimensionar servidores próprios.
  • Segurança e conformidade: Ambos os serviços oferecem monitoramento, logs detalhados e suporte a políticas de privacidade que atendem às exigências de reguladores, como a Segurança de Criptomoedas no Brasil.

3. Como Pinata funciona na prática

O fluxo típico ao usar Pinata inclui:

  1. Upload de arquivos: Você envia imagens, vídeos ou arquivos JSON via API REST ou SDKs (JavaScript, Python, Go).
  2. Pinning automático: Pinata replica o conteúdo em múltiplos nós de IPFS, criando um CID (Content Identifier) único.
  3. Gateway de acesso: Cada CID pode ser acessado através de um gateway público (ex.: https://gateway.pinata.cloud/ipfs/) ou via gateway personalizado para melhorar latência.
  4. Gerenciamento e monitoramento: O painel da Pinata exibe métricas de tráfego, pins ativos e permite revogar pins quando necessário.

Um ponto crítico é a política de retenção. Enquanto o plano gratuito oferece um número limitado de pins, os planos pagos garantem armazenamento permanente e suporte a SLA (Service Level Agreement). Para projetos de produção, recomenda‑se sempre ter um plano pago ou combinar Pinata com outros provedores de pinning para evitar pontos únicos de falha.

4. Infura: conectando ao Ethereum sem dor de cabeça

Infura simplifica a interação com a blockchain por meio de duas APIs principais:

  • JSON‑RPC HTTP: Ideal para chamadas pontuais, como consultas de saldo ou leitura de contratos.
  • WebSocket: Perfeito para subscrições em tempo real (eventos de contrato, novos blocos).

Além de Ethereum Mainnet, Infura oferece suporte a redes de teste (Goerli, Sepolia) e a outras cadeias como Polygon, Optimism e Arbitrum, facilitando a migração entre ambientes.

4.1. Configurando a primeira conexão

Com a biblioteca ethers.js, a configuração típica fica assim:

Pinata, Infura - ethers library
Fonte: Makmot Robin via Unsplash

“`js
const { ethers } = require(‘ethers’);
const INFURA_PROJECT_ID = ‘seuProjetoID’;
const provider = new ethers.providers.InfuraProvider(‘homestead’, INFURA_PROJECT_ID);

(async () => {
const blockNumber = await provider.getBlockNumber();
console.log(‘Bloco atual:’, blockNumber);
})();
“`

Essa simples linha já lhe dá acesso ao estado completo da blockchain, sem precisar sincronizar um nó completo.

4.2. Limites e boas práticas

Embora Infura ofereça alta disponibilidade, há limites de taxa (rate‑limits) que variam conforme o plano. Para evitar bloqueios:

  • Cacheie respostas de chamadas estáticas (ex.: ABI de contratos).
  • Use back‑off exponencial ao lidar com erros 429.
  • Distribua as chamadas entre múltiplas chaves de projeto se o volume for muito alto.

5. Integração completa: Pinata + Infura em um dApp NFT

A seguir, apresentamos um exemplo passo‑a‑passo de como combinar Pinata e Infura para criar, armazenar e listar um NFT ERC‑721.

5.1. Preparação do ambiente

  1. Crie contas em Pinata e Infura e obtenha as chaves de API.
  2. Instale dependências: npm install ethers pinata-sdk dotenv.
  3. Configure o arquivo .env:
    PINATA_API_KEY=seuPinataKey
    PINATA_API_SECRET=seuPinataSecret
    INFURA_PROJECT_ID=seuInfuraID
    WALLET_PRIVATE_KEY=chavePrivadaMetaMask
        

5.2. Upload da arte e metadados para Pinata

O código abaixo faz o upload da imagem e gera o JSON de metadados:

“`js
require(‘dotenv’).config();
const pinataSDK = require(‘@pinata/sdk’);
const fs = require(‘fs’);
const pinata = pinataSDK(process.env.PINATA_API_KEY, process.env.PINATA_API_SECRET);

async function uploadToPinata() {
// 1. Upload da imagem
const readableStream = fs.createReadStream(‘./artwork.png’);
const imageResult = await pinata.pinFileToIPFS(readableStream);
const imageCID = imageResult.IpfsHash;

// 2. Cria JSON de metadados
const metadata = {
name: “Meu Primeiro NFT”,
description: “Um exemplo de NFT usando Pinata + Infura”,
image: `ipfs://${imageCID}`,
attributes: [{ trait_type: “Cor”, value: “Azul” }]
};

const metaResult = await pinata.pinJSONToIPFS(metadata);
return metaResult.IpfsHash; // CID do metadata.json
}
“`

5.3. Mintando o token via Infura

Com o CID do metadata em mãos, utilizamos o contrato ERC‑721 já implantado (ou deployamos um novo) e chamamos a função mint:

“`js
const { ethers } = require(‘ethers’);
const provider = new ethers.providers.InfuraProvider(‘homestead’, process.env.INFURA_PROJECT_ID);
const wallet = new ethers.Wallet(process.env.WALLET_PRIVATE_KEY, provider);

const erc721Abi = [“function safeMint(address to, string memory uri) public”];
const contractAddress = “0xSeuContratoERC721”;
const contract = new ethers.Contract(contractAddress, erc721Abi, wallet);

(async () => {
const metadataCID = await uploadToPinata();
const tx = await contract.safeMint(wallet.address, `ipfs://${metadataCID}`);
console.log(‘Transação enviada, hash:’, tx.hash);
const receipt = await tx.wait();
console.log(‘Mint concluído em bloco’, receipt.blockNumber);
})();
“`

Esse fluxo garante que a arte e os metadados estejam permanentemente disponíveis no IPFS (via Pinata) e que a transação de mint seja confiável e rápida graças à infraestrutura da Infura.

6. Boas‑práticas de segurança e custo

Segurança:

  • Never expose your private keys in client‑side code. Use environment variables and server‑side signing.
  • Habilite a autenticação de duas etapas nas contas Pinata e Infura.
  • Monitore logs de acesso via dashboard e configure alertas de uso anômalo.

Custo:

  • Pinata cobra por GB de armazenamento e número de pins. Avalie a necessidade de compressão de arquivos (WebP, gzip).
  • Infura tem tier gratuito (100k requests/dia) e planos pagos por número de chamadas e prioridade de suporte.
  • Combine chamadas batch (eth_call) para reduzir tráfego.
Pinata, Infura - number calls
Fonte: Vladimir Gladkov via Unsplash

7. Alternativas e complementos

Embora Pinata e Infura sejam líderes de mercado, existem outras opções que podem ser úteis dependendo do caso de uso:

  • Alchemy: outra plataforma de node‑as‑a‑service, com recursos avançados como “Notify” e “Enhanced APIs”.
  • Filecoin: armazenamento descentralizado de longo prazo que pode ser usado em conjunto com IPFS para garantir ainda mais durabilidade.
  • Temporal ou QuickNode: provedores de nós que oferecem planos com latência ainda menor para aplicações de alta frequência.

Para entender melhor o ecossistema Web3, vale conferir o artigo O que é Web3? Guia Completo, Tecnologias e Perspectivas para 2025, que traz uma visão geral das camadas de infraestrutura.

Além disso, se você ainda está aprendendo a usar carteiras digitais, o guia Como usar a MetaMask: Guia completo passo a passo para iniciantes e avançados pode ser um ótimo ponto de partida antes de interagir com Infura.

8. Futuro da infraestrutura Web3

Com a chegada de Ethereum 2.0 (Proof‑of‑Stake) e o crescimento de Layer‑2 como Optimism e Arbitrum, a demanda por serviços de alta disponibilidade só aumentará. Pinata já anunciou suporte nativo a IPFS Cluster, permitindo replicação geográfica automática, enquanto Infura está investindo em archival nodes para consultas históricas mais rápidas.

Desenvolvedores que adotarem essas soluções hoje ganharão vantagem competitiva, reduzindo custos operacionais e entregando experiências de usuário que atendem às expectativas de um mercado cada vez mais exigente.

Conclusão

Pinata e Infura são, respectivamente, os pilares de armazenamento permanente e de conectividade com a blockchain que sustentam a maioria dos dApps modernos. Ao combinar os dois, você obtém:

  • Disponibilidade garantida de arquivos via IPFS.
  • Escalabilidade de chamadas RPC sem manutenção de nós.
  • Segurança, monitoramento e suporte de nível empresarial.

Se você está iniciando um projeto NFT, construindo uma aplicação DeFi ou apenas explorando a Web3, integrar Pinata e Infura deve estar no topo da sua lista de prioridades técnicas.