Nos últimos anos, os tokens não‑fungíveis (NFTs) deixaram de ser apenas obras de arte digitais para se tornarem blocos de construção de novos ecossistemas dentro da Web3. Um dos desenvolvimentos mais intrigantes é a capacidade de um NFT “possuir” outros NFTs, criando estruturas hierárquicas que lembram coleções, jogos, imóveis virtuais e até mesmo contratos inteligentes complexos. Neste artigo, vamos explorar, em detalhes, como isso funciona tecnicamente, quais são os principais casos de uso, os riscos associados e como você pode começar a experimentar essa funcionalidade hoje mesmo.
1. Conceitos básicos: NFT, smart contracts e propriedade
Um NFT é, essencialmente, um registro único em uma blockchain que aponta para dados off‑chain (como imagens, áudio ou metadados) e possui um identificador exclusivo (tokenId). A propriedade de um NFT é controlada por um contrato inteligente (smart contract) que segue padrões como ERC‑721 ou ERC‑1155 na rede Ethereum, ou padrões equivalentes em outras cadeias (BSC, Polygon, Solana, etc.).
Quando falamos que um NFT pode “possuir” outros NFTs, estamos nos referindo a duas abordagens principais:
- Composição de tokens (token nesting): um NFT contém referências a outros NFTs dentro de seus metadados ou estado interno, permitindo que ele atue como um contêiner.
- Propriedade delegada via contrato: o contrato que gerencia o NFT principal inclui funções que permitem a transferência ou controle de NFTs adicionais vinculados a ele.
Ambas as abordagens dependem de Wikipedia – NFT como base conceitual e de plataformas como OpenSea que já suportam coleções aninhadas em alguns casos.
2. Por que permitir que um NFT possua outros NFTs?
Esta funcionalidade abre um leque de possibilidades que vão muito além de simples coleções de arte:

- Metaverso e terrenos virtuais: Um lote de terra digital pode ser representado por um NFT que contém “sub‑NFTs” correspondentes a edifícios, objetos ou direitos de uso. Cada construção ou mobiliário pode ser negociado separadamente, mas ainda assim permanecer dentro do domínio do terreno‑mãe.
- Games Play‑to‑Earn (P2E): Itens de jogo (armas, skins, personagens) podem ser agrupados em um “pacote de herói”. O pacote (NFT) pode ser vendido como um todo ou desmontado, permitindo que o comprador escolha quais itens manter.
- Identidade e credenciais: Projetos como Tudo o que Você Precisa Saber sobre Soulbound Tokens (SBTs) usam tokens vinculados a uma identidade única. Um SBT pode “conter” certificações, diplomas ou badges, facilitando a verificação de credenciais sem necessidade de múltiplos contratos.
- Finanças descentralizadas (DeFi): Um NFT pode representar uma carteira de ativos (outros NFTs, tokens fungíveis, direitos de royalties). Isso permite que investidores comprem um “pacote de rendimentos” em vez de negociar cada ativo individualmente.
3. Implementação técnica: padrões e boas práticas
Para construir NFTs que possuam outros NFTs, os desenvolvedores normalmente utilizam o padrão ERC‑1155, que permite múltiplos tipos de token (fungível e não‑fungível) dentro de um único contrato. No entanto, o ERC‑721 também pode ser estendido com funções customizadas.
Segue um exemplo simplificado de como um contrato ERC‑721 pode armazenar referências a outros NFTs:
pragma solidity ^0.8.0;
import "@openzeppelin/contracts/token/ERC721/ERC721.sol";
import "@openzeppelin/contracts/token/ERC721/IERC721.sol";
contract NFTContainer is ERC721 {
// Mapping from parent tokenId to array of child token contracts + ids
struct ChildToken { address contractAddr; uint256 tokenId; }
mapping(uint256 => ChildToken[]) private _children;
constructor() ERC721("Container", "CNT") {}
function addChild(uint256 parentId, address childContract, uint256 childId) external {
require(ownerOf(parentId) == msg.sender, "Not owner of parent");
// Transferir o child token para este contrato (segurança)
IERC721(childContract).transferFrom(msg.sender, address(this), childId);
_children[parentId].push(ChildToken(childContract, childId));
}
function getChildren(uint256 parentId) external view returns (ChildToken[] memory) {
return _children[parentId];
}
}
Este contrato faz o seguinte:
- Armazena uma lista de ChildToken (contrato + tokenId) para cada NFT “pai”.
- Requer que o proprietário do NFT pai transfira o NFT filho para o contrato, garantindo que o contrato seja o detentor legal.
- Permite consultar os NFTs filhos via
getChildren
.
Em produção, recomenda‑se implementar verificações adicionais (como ERC‑165 para garantir que o contrato filho seja realmente ERC‑721/1155), eventos de logging e mecanismos de retirada seguros.
4. Casos de uso reais no mercado brasileiro
Alguns projetos brasileiros já adotaram a ideia de NFTs aninhados:
- Metaverso de eventos: Plataformas que vendem ingressos como NFTs permitem que o ingresso (NFT) contenha “acessos extras” – por exemplo, um backstage virtual ou itens de colecionador. Cada acesso extra é outro NFT associado ao ingresso‑pai.
- Arte digital colaborativa: Artistas criam obras‑mãe que contêm “fragmentos” de obras individuais de outros criadores, todos representados como NFTs filhos. A venda da obra‑mãe gera royalties automáticos para cada fragmento.
- Terrenos no Metaverso: Consulte o Guia Definitivo para Comprar Terrenos no Metaverso em 2025 para entender como parcelas de terra podem agrupar construções, recursos e direitos de mineração como NFTs filhos.
5. Vantagens e desafios
5.1 Vantagens
- Modularidade: Usuários podem comprar ou vender partes de um conjunto sem precisar negociar o conjunto inteiro.
- Economia de gas: Em algumas blockchains, transferir um contêiner que já possui os NFTs internos pode ser mais barato que múltiplas transferências individuais.
- Experiência de usuário aprimorada: Interfaces podem exibir hierarquias de ativos de forma intuitiva, similar a pastas de arquivos.
5.2 Desafios
- Complexidade de auditoria: Quanto mais camadas de aninhamento, mais difícil é garantir que não haja vulnerabilidades de re‑entrada ou perda de tokens.
- Compatibilidade de marketplaces: Ainda nem todas as plataformas exibem corretamente NFTs aninhados. É importante testar em marketplaces como O que são NFTs? Guia Completo e Atualizado 2025.
- Questões legais: A propriedade de um NFT que contém outros NFTs pode gerar dúvidas sobre direitos autorais e royalties, especialmente quando os filhos têm diferentes criadores.
6. Como começar a criar NFTs que possuam outros NFTs
- Escolha a blockchain: Ethereum ainda é a referência, mas Polygon (MATIC) oferece taxas menores e suporte ao ERC‑1155. Avalie também a compatibilidade com wallets como MetaMask (Como usar a MetaMask).
- Defina o modelo de dados: Decida se vai usar um contrato único (ERC‑1155) ou um contrato pai que referencia contratos filhos (ERC‑721).
- Desenvolva e teste: Use frameworks como Hardhat ou Truffle. Crie um ambiente de teste (Rinkeby, Mumbai) antes de lançar na mainnet.
- Audite o contrato: Contrate auditorias externas (OpenZeppelin, CertiK) para garantir que a lógica de aninhamento não introduza vulnerabilidades.
- Publique e registre metadados: Utilize IPFS ou Arweave para armazenar os metadados que listam os NFTs filhos. Certifique‑se de que o JSON siga o padrão ERC‑721 Metadata.
- Integre com marketplaces: Informe aos marketplaces que seu contrato suporta aninhamento. Alguns, como OpenSea, já reconhecem coleções ERC‑1155 com itens embutidos.
7. Futuro dos NFTs aninhados
À medida que a Web3 amadurece, a capacidade de criar estruturas de ativos cada vez mais complexas será essencial. Espera‑se que padrões emergentes, como ERC‑734 (Identidade), se combinem com NFTs aninhados para criar identidades digitais completas, incluindo credenciais (SBTs), propriedades virtuais e direitos de governança.
Além disso, a integração com Real World Assets (RWA) pode permitir que um NFT represente um portfólio de ativos reais (imóveis, commodities) onde cada ativo individual é um NFT filho tokenizado.
8. Conclusão
Um NFT que possui outros NFTs representa uma evolução natural da tokenização, proporcionando modularidade, eficiência e novas oportunidades de negócios dentro do ecossistema Web3. Embora existam desafios técnicos e regulatórios, as ferramentas e padrões atuais já permitem que desenvolvedores e criadores experimentem essa funcionalidade de forma segura.
Se você está interessado em explorar essa fronteira, comece estudando os conceitos básicos de NFTs (O que são NFTs? Guia Completo e Atualizado 2025), experimente criar um contrato simples de aninhamento e, em seguida, expanda para casos de uso mais avançados como terrenos no metaverso ou credenciais digitais.