Como funcionam e por que são controversos os Stablecoins
Nos últimos anos, os stablecoins ganharam destaque como uma ponte entre o universo das criptomoedas voláteis e o mundo das finanças tradicionais. Prometem estabilidade de preço ao serem lastreados em ativos reais, como moedas fiduciárias (USD, EUR) ou commodities. Contudo, apesar da promessa de segurança, esses ativos digitais são constantemente alvo de debates, críticas e até investigações regulatórias. Neste artigo, vamos mergulhar profundamente em como funcionam os stablecoins, analisar os diferentes modelos de lastro, entender por que são controversos e oferecer orientação prática para quem deseja utilizá‑los ou investir neles em 2025.
1. O que são stablecoins?
Stablecoins são criptomoedas projetadas para manter um valor estável em relação a um ativo de referência. Ao contrário de moedas como Bitcoin ou Ethereum, cuja cotação pode oscilar milhares de porcento em poucos dias, os stablecoins buscam minimizar essa volatilidade. Existem três categorias principais:
- Stablecoins fiat‑backed: lastreados 1:1 em moeda fiduciária mantida em reservas bancárias (ex.: USDC, USDT).
- Stablecoins cripto‑backed: garantidos por outras criptomoedas, geralmente com sobre‑colateralização (ex.: DAI).
- Stablecoins algorítmicos: não possuem reservas físicas; a estabilidade é mantida por contratos inteligentes que ajustam a oferta conforme a demanda.
Os dois exemplos mais conhecidos no mercado brasileiro são o USDC Circle e o USDT Tether. Ambos são stablecoins fiat‑backed, mas diferem em transparência, auditoria e governança.
2. Como funciona o lastro fiat‑backed?
Quando você compra 1 USDC, a empresa emissora (Circle) supostamente deposita 1 dólar americano em uma conta bancária segregada. Essa reserva serve como garantia de que, a qualquer momento, o usuário pode resgatar seu token por dinheiro real. O processo de emissão e queima (mint/burn) garante que a quantidade de tokens em circulação corresponda ao montante de reservas.
Para garantir a confiança, emissores como a Circle contratam auditorias regulares de firmas reconhecidas (ex.: Grant Thornton). O relatório de auditoria comprova que o saldo das reservas acompanha o número total de tokens emitidos.
Já o caso da Tether (USDT) tem sido mais controverso. Embora a empresa afirme que cada token é suportado por reservas equivalentes, as auditorias são menos frequentes e as reservas incluem não apenas dólares, mas também títulos, empréstimos e outros ativos. Essa opacidade gerou dúvidas sobre a real liquidez do USDT.

3. Modelos de stablecoins cripto‑backed
Os stablecoins cripto‑backed utilizam outras criptomoedas como garantia. O exemplo mais proeminente é o DAI, criado pela MakerDAO. Quando um usuário deseja gerar DAI, ele deposita Ether (ETH) ou outros tokens como colateral em um contrato inteligente. O valor do colateral deve ser superior ao valor do DAI emitido (geralmente 150% ou mais) para proteger contra a volatilidade do ativo subjacente.
Esse modelo tem a vantagem de ser totalmente descentralizado, sem necessidade de confiança em uma entidade central. Contudo, exige monitoramento constante das taxas de colateralização; caso o preço do colateral caia abaixo de um limite, o sistema executa liquidações automáticas para preservar a paridade.
4. Stablecoins algorítmicos – a promessa e o risco
Os stablecoins algorítmicos tentam manter a estabilidade sem reservas físicas, usando mecanismos de oferta‑demanda. O protocolo ajusta a quantidade de tokens em circulação: se o preço subir acima de $1, o contrato emite novos tokens; se cair, compra e queima tokens.
Embora a ideia seja inovadora, na prática tem se revelado extremamente vulnerável. Exemplos como TerraUSD (UST) demonstraram que, em situações de pânico, os algoritmos podem falhar, levando a descolamentos massivos e perdas para os investidores.
5. Por que os stablecoins são controversos?
- Transparência das reservas: A falta de auditorias independentes e frequentes, especialmente no caso da Tether, levanta suspeitas sobre a real solvência.
- Risco sistêmico: Stablecoins são amplamente usados em plataformas DeFi. Uma falha de um grande stablecoin pode desencadear liquidações em cascata, afetando toda a cadeia de empréstimos e derivativos.
- Regulação: Governos e reguladores ainda não definiram regras claras. Na Europa, a ESMA tem proposto normas que podem limitar o uso de stablecoins sem licenças bancárias.
- Impacto no sistema financeiro tradicional: Bancos temem que stablecoins possam drenar depósitos, enquanto autoridades temem lavagem de dinheiro e evasão de sanções.
- Concentração de poder: Algumas stablecoins são controladas por poucas entidades (ex.: Circle, Tether), gerando concentração de risco.
6. Como avaliar a segurança de um stablecoin antes de usar
Ao considerar investir ou usar um stablecoin, siga este checklist:

- Auditorias independentes: Verifique se há relatórios trimestrais de auditoria publicados por firmas reconhecidas.
- Composição das reservas: Prefira ativos de alta liquidez (dinheiro em caixa, títulos do tesouro) ao invés de empréstimos ou ativos de risco.
- Governança: Entenda quem controla a emissão e que mecanismos de decisão existem.
- Regulamentação: Consulte se o emissor está registrado em alguma autoridade financeira (ex.: FinCEN nos EUA, FCA no Reino Unido).
- Integração em DeFi: Avalie a exposição do stablecoin a protocolos de empréstimo. Quanto mais dependente de outros contratos, maior o risco de falhas encadeadas.
7. O futuro dos stablecoins em 2025 e além
Com a crescente adoção institucional, espera‑se que o mercado de stablecoins se consolide em torno de poucos players com alta transparência. A Fed já sinalizou interesse em criar um “FedCoin” – uma stablecoin oficial emitida pelo banco central dos EUA. Se implementado, poderia redefinir o padrão de confiança.
Ao mesmo tempo, reguladores europeus avançam com a Regulação de Ativos Cripto (MiCA), que impõe requisitos de reserva e auditoria para stablecoins operando na UE. Essa legislação pode influenciar o mercado global, forçando emissores a adotar práticas mais rígidas.
8. Como usar stablecoins de forma segura
- Escolha wallets confiáveis: Utilize carteiras de hardware (ex.: Ledger Nano X) ou wallets de software com suporte a auditorias de código aberto.
- Diversifique: Não concentre todo seu capital em um único stablecoin. Distribua entre USDC, DAI e, se desejar, stablecoins regulados localmente.
- Monitore as reservas: Acompanhe relatórios de auditoria e notícias sobre o emissor.
- Use exchanges regulamentadas: Ao comprar ou vender stablecoins, prefira corretoras com licenças reconhecidas (ex.: Binance Portugal, Coinbase).
- Esteja atento a taxas: Algumas plataformas cobram taxas de conversão que podem corroer o valor do seu investimento.
9. Conclusão
Os stablecoins representam uma das inovações mais impactantes da economia digital, oferecendo liquidez, rapidez e acesso a mercados globais sem a volatilidade típica das criptomoedas. Entretanto, a falta de transparência, os riscos sistêmicos e a incerteza regulatória continuam a gerar controvérsias. Ao compreender como funcionam e por que são controversos, você pode tomar decisões mais informadas, proteger seus ativos e aproveitar as oportunidades que esse ecossistema oferece.
Se quiser aprofundar ainda mais, recomendo a leitura dos guias Proof‑of‑Stake (PoS) e Regulação de criptomoedas na Europa, que complementam o panorama de riscos e oportunidades.