Teste de Howey e as criptomoedas: tudo o que você precisa saber em 2025
O Teste de Howey é a referência jurídica norte‑americana que determina se um contrato ou ativo pode ser classificado como securities (valor mobiliário). Desde a explosão do mercado de cripto‑ativos, investidores, reguladores e desenvolvedores têm se perguntado como esse teste se aplica a tokens, ICOs, DeFi e NFTs. Este artigo traz uma análise aprofundada, com exemplos práticos, implicações regulatórias e estratégias para quem atua no ecossistema cripto.
1. Origem e estrutura do Teste de Howey
O teste nasceu da decisão da Suprema Corte dos EUA em SEC v. W.J. Howey Co. (1946). O julgamento estabeleceu quatro pilares essenciais para identificar um security:
- Investimento de dinheiro;
- Em uma empresa comum;
- Com expectativa de lucro;
- Derivado dos esforços de terceiros.
Se todas as condições forem atendidas, o ativo é considerado um security e, portanto, sujeito à regulação da SEC – Teste de Howey.
2. Por que o Teste de Howey importa para o mundo cripto?
Ao contrário de ações tradicionais, os cripto‑ativos podem assumir várias formas: moedas utilitárias, tokens de governança, stablecoins, NFTs, entre outros. A classificação correta determina:
- Obrigatoriedade de registro ou isenção junto à SEC;
- Direitos de voto e dividendos;
- Responsabilidades fiscais e de compliance;
- Possibilidade de restrições de negociação em exchanges.
Um erro de classificação pode resultar em multas milionárias, como aconteceu com a Telegram Open Network (TON) em 2020, que foi considerada um security não registrada.
3. Aplicação prática do Teste de Howey a diferentes tipos de tokens
3.1. Tokens de utilidade (utility tokens)
Esses tokens dão acesso a um serviço ou plataforma (ex.: Polygon (MATIC)). Para que não sejam securities, normalmente:
- Não há expectativa de lucro baseada em gestão externa;
- O valor do token está ligado ao uso da rede, não ao esforço de terceiros.
No entanto, se o projeto vender esses tokens antes da rede estar funcional, com promessas de valorização, o teste pode ser atendido.

3.2. Tokens de governança (governance tokens)
Exemplos como Chainlink (LINK) permitem que detentores influenciem decisões de protocolo. Quando o valor do token depende da performance da equipe ou da adoção da rede, o quarto pilar do teste (esforços de terceiros) costuma estar presente, tornando‑os potenciais securities.
3.3. Stablecoins
Stablecoins como USDC e USDT têm respaldo em ativos reais. Apesar de serem consideradas “moedas” por alguns reguladores, a USDC Circle e a USDT Tether já foram alvo de escrutínio da SEC por possíveis violações do Teste de Howey, especialmente quando há expectativa de lucro baseada em juros de reservas.
3.4. NFTs e Soulbound Tokens (SBTs)
Os NFTs geralmente representam propriedade de um bem digital único, não um direito de lucro. Contudo, projetos que vendem NFTs com promessa de royalties futuros podem ser enquadrados como securities. Os Soulbound Tokens (SBTs) são ainda mais complexos, pois são intransferíveis e ligados a identidade, exigindo análise caso a caso.
4. Como a regulação global está respondendo ao Teste de Howey
Nos EUA, a SEC tem intensificado sua atuação, mas outras jurisdições adotam abordagens diferentes. Na Europa, por exemplo, a MiCA (Markets in Crypto‑Assets) busca harmonizar regras, muitas vezes alinhadas ao teste de Howey, mas com foco em transparência e proteção ao consumidor.
Na América Latina, países como Brasil ainda estão construindo marcos regulatórios. O Portugal oferece uma visão mais amigável ao investidor, mas ainda observa as diretrizes da SEC para evitar conflitos.
5. Estratégias para empreendedores cripto
- Realizar uma análise jurídica antecipada: contratar advogados especializados em securities para avaliar se o token atende ao Teste de Howey.
- Estruturar a venda como “utility‑first”: garantir que o token tenha funcionalidade clara antes de qualquer campanha de marketing.
- Utilizar isenções regulamentares: como a Regulação S ou Reg D nos EUA, que permitem ofertas limitadas a investidores qualificados.
- Transparência total: publicar whitepapers detalhados, auditorias de código e relatórios de uso da rede.
6. O que os investidores devem observar
Ao avaliar um token, pergunte‑se:

- O projeto está vendendo um direito de uso ou um direito de participação nos lucros?
- Existe uma equipe central que controla a maioria dos fluxos de valor?
- Os ganhos são prometidos com base no esforço da equipe ou na adoção da tecnologia?
Se a resposta for “sim” em todas as perguntas, há alta probabilidade de o ativo ser classificado como security segundo o Investopedia – Howey Test.
7. Casos emblemáticos e lições aprendidas
| Projeto | Resultado | Lição |
|---|---|---|
| Telegram Open Network (TON) | Suspensão da ICO; multa de US$ 18,5 mi | Tokens pré‑lançamento podem ser securities. |
| Filecoin (FIL) | Registrado como security nos EUA | Oferta de tokens com expectativa de lucro requer registro. |
| Uniswap (UNI) | Distribuição como airdrop; sem registro | Airdrops podem evitar o teste se não houver compra prévia. |
8. Futuro do Teste de Howey no universo cripto
Com a evolução de modelos como Decentralized Finance (DeFi) e Real World Assets (RWA), a linha entre security e utility tende a se tornar mais tênue. Espera‑se que reguladores criem critérios específicos para tokens que representem ativos reais, tornando o teste mais adaptável.
Enquanto isso, a melhor prática é tratar cada token como potencial security até que uma análise jurídica conclusiva indique o contrário.
Conclusão
O Teste de Howey continua sendo a ferramenta central para determinar a natureza jurídica dos cripto‑ativos. Compreender seus quatro pilares, analisar casos reais e acompanhar a evolução regulatória são passos essenciais para empreendedores e investidores que desejam operar de forma segura e em conformidade.
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